A moreninha

Por Marina Cabral da Silva

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Chegava o dia de Sant’ana e Filipe convidou seus amigos Leopoldo, Fabrício e Augusto para irem à ilha de Paquetá, na casa de sua avó D. Ana. Conversando, os jovens estudantes de medicina, questionam a inconstância de Augusto em seus romances e assim, fizeram uma aposta. Filipe apostou com Augusto que indo para a ilha ele acabaria apaixonado por uma das moças que lá estaria e que se ele se mantivesse apaixonado quinze dias por uma só moça ele lhe escreveria um romance contando o fato, caso contrário Filipe escreveria um romance contando sua derrota.

Chegava o dia de irem para ilha, Fabrício escreveu uma carta pedindo a ajuda de Augusto, pois seu namoro com D. Joana não estava bem. Ele agia de forma clássica em seus romances, mas por questionamentos de Augusto resolveu agir de forma romântica e assim se envolveu com a prima, de Filipe, D. Joana, e a moça, a partir de então, não lhe deixava em paz com exigências. Queria que Augusto o ajudasse a se livrar da moça.
Assim chegaram à ilha, Augusto foi interceptado por uma senhora que lhe tomou numerosas horas com narrações maçantes, quando finalmente se viu livre de tal senhora foi ter com D. Carolina, irmã de Filipe, mas nesse momento Fabrício o convocou para uma palavra. Pediu-lhe a resposta da carta, mas Augusto havia perdido a paciência com a maçante senhora e, além disso, não teve oportunidade de ficar com D.Carolina; recusou a ajuda.

Fabrício, então para se vingar da recusa ao pedido, revelou na mesa de jantar as inconstâncias nos amores de Augusto, ele se defendeu alegando que não podia se prender e amar uma só senhora, pois enquanto uma tinha um sorriso cativante outra tinha um lindo colo e assim justicava-se pela beleza do sexo oposto. Depois do jantar todas as senhoras, temendo o rapaz, o deixaram sozinho. Por fim D.Ana lhe concedeu o braço e foram passear.

Caminharam até chegar a uma gruta e lá foi novamente questionado pela sua inconstância, então revelou por que agia de tal forma. Quando tinha seu treze anos, encontrou-se na praia com uma menina travessa que devia ter seus oito anos, logo os dois se tornaram grandes camaradas e decidiram se casar, passaram a tratar um ao outro como “meu esposo” e “minha mulher”. Assim não se importaram com nomes, continuavam a brincar quando chegou um menino chorando até eles.
O pai do menino estava morrendo, correram os três até uma cabana, Augusto e sua “mulher” encontraram um velho moribundo, sua mulher e seus filhos, deram todo dinheiro que tinham para a família, o velho então os abençoou e sabendo do desejo que tinham de se casarem, pediu a eles um objeto de valor. Augusto lhe entregou um camafeu de ouro e a menina um botão de esmeralda. O velho entregou o camafeu de ouro para a menina e o botão de esmeralda para o menino, dessa forma no futuro se reconheceriam e se casariam. Assim os dois foram embora, a menina foi ao encontro dos pais e nunca mais se viram.

Não amou nunca mais, até que questionado iniciou seus namoros, primeiro namorou a uma moça morena que depois de lhe jurar gratidão e ternura casou-se com um velho de sessenta anos. Depois amou a uma corada que em um baile ouviu-a dizer a outro que ele era um pobre rapaz com quem se divertia, em terceiro amou a uma jovem pálida que zombava dele e do primo ao mesmo tempo, jurou então não amar nem um desses três tipos de moça, mas então percepeu que assim não podia amar nem sua “mulher” então depois de uma canção iniciou sua inconstância.

A cada ponto dessa narração ouvia alguém correndo na porta da gruta, mas quando ia lá só via a travessa D. Carolina, distante a se divertir. Explicando-se foi até uma fonte ao fundo da gruta e bebeu de sua água em um copo que ficava ali justamente pra isso. Após beber D.Ana contou-lhe sobre a lenda daquela fonte que era na verdade as lágrimas de uma virgem que muito chorou em cima do rochedo da gruta por não ser correspondida pelo mancebo que todos os dias visitava àquela ilha, as gotas de suas lágrimas penetraram o rochedo e caíram sobre o mancebo que acabou apaixonando pela virgem. E ali ficara a fonte, dizia a lenda que quem bebesse daquela fonte não sairia da ilha sem amar um de seus habitantes.
Logo que saíram da gruta D.Carolina estava em cima do rochedo cantando a canção que a virgem cantava. Assim voltaram todos para a casa.
Estando na casa caiu café sobre as calças brancas de Augusto que foi trocá-las, Filipe lhe disse que poderia se trocar no quarto das moças, Augusto acabou aceitando e assim que estava de siroulas entram no quarto: Joana, Gabriela, Quinquina e Clementina. O rapaz correu e se escondeu debaixo da cama e lá ficou ouvindo as confidências das moças. Essas foram interrompidas por um berro de Carolina, as moças saíram e em seguida Augusto saiu vestido.
A serva Paula que amamentara Carolina havia bebido muito ao fazer companhia para o S. Kleberc e estava desmaiada. Logo muitos diagnósticos vieram, Filipe e seus amigos disseram o que tinha acontecido, logo viram que se tratava de bebida, mas como Carolina não acreditaria e seria mais divertido mentir inventaram loucuras acerca do que havia acontecido. Logo a noite seguiu cheia de diversão.

No entanto, Augusto não se agradava com os jogos que os jovens faziam, faltava ali D. Carolina. D. Ana vendo a inquietação do rapaz perguntou-lhe o que tinha e com a resposta mandou ir procurá-la, achou-a junto a Paula, acabava de brigar com uma escrava que dizia que a água para o escalda-pés da outra estava muito quente, e assim decidiu por si mesma fazer. Logo a vendo segurar os gemidos provados pela dor da água fervendo Augusto se ofereceu a fazer ele mesmo o escalda-pés.
De início Augusto achara Carolina feia, depois a achara travessa e agora estava a ponto de achá-la bela. E todos viam que Carolina deitava maior delicadeza para ele. Assim seguiu os dias. Durante um sarau Augusto se declarou para quatro senhoras, essas depois reunidas desobrindo tais declarações decidiram que fariam uma brincadeira com ele para se vingarem, escreveram-lhe um bilhete pedindo que fosse para a gruta no dia seguinte onde lhe esperariam, assinaram como uma incógnita.
Mas Carolina havia ouvido tudo e com outro bilhette anônimo contou a verdade para Augusto, mas mesmo assim ele foi até a gruta só que quem riu foi ele, ao chegar lá disse que adivinharia segredos das quatros assim que bebesse da água da fonte que era mágica. Assim em particular falou a elas sobre os segredos que elas mesmos haviam revelado naquele dia no quarto. Assim todas foram embora, quando Augusto ia sair apareceu Carolina na gruta e disse que ela lhe revelaria agora o passado presente e futuro dele.

Falou-lhe sobre a “sua mulher” e sobre as moças que o ignoraram, falou que no futuro, estaria apaixonado e esqueceria sua mulher e depois lhe falou sobre o presente. Por fim voltaram todos à corte. Mas Augusto não era o mesmo, confidenciou a Fabrício que amava Carolina, essa, na ilha, andava entre suspiros e deixara de ser a menina travessa que era.
Assim no fim de semana seguinte Filipe voltou à ilha, e disse que no dia seguinte Augusto viria. Logo Carolina se alterou e no dia seguinte vestida de branco foi para cima do rochedo quando a embaração de Augusto apontou, a menina voltou para casa, ele da embarcação conseguiu vê-la, mas rapidamente a perdeu. Foi um dia agradável, Carolina se tornou a sua “bela mestre” e Augusto o seu “aprendiz” e assim ela o ensinava a bordar. A cada erro dele a menina dava-lha um puxão de orelha e nesse momento suas mãos se apertavam no encontro.

No domingo seguinte voltou e como tarefa trouxe um lenço bordado, mas Carolina se encheu de ciúme pois o lenço estava perfeito e assim a pobre acreditou que ela havia tomado outra mestre, mas depois de tudo esclarecido, ele tinha pago pelo lenço, voltaram ao que era antes e foram brincar com as bonecas dela. Depois, enquanto caminhavam na praia, Augusto declarou que a amava.
Quando voltou pra a corte seu pai estava lá e com a chegado do domingo não o permitu que fosse até a ilha, trancou-o no quarto e assim o rapaz adoeceu. Carolina também se mostrava muito infeliz. Até que chegou um homem à ilha e em conferência com D.Ana explicou que o rapaz estava doente. Com a chegada do domingo e também a notícia da melhora de Augusto, Carolina subiu ao rochedo e foi esperá-lo. Junto veio o pai dele. D.Ana e o pai de Augusto ficaram muito tempo a conversar até que os dois amantes foram chamados.

D. Ana havia concedido a mão da neta a Augusto, perguntaram se ela aceitava o menino, depois de muito acanhamento pediu que dessem a ela meia hora e foi até a gruta. Antes do tempo se dar Augusto foi pra lá, Carolina então lhe disse que antes de aceitá-lo tinha que ter o perdão de sua “mulher” e que ele fosse procurá-la, antes dele sair da gruta Carolina lhe entregou o camafeu de ouro. Ela era sua “mulher”. Filipe, Fabrício e Leopoldo chegaram também à ilha e o noivado foi celebrado. O romance que Augusto devia já estava pronto e chamava-se “A moreninha”.

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Por Rebeca Cabral